A SAGA DOS NICOLI E NERY

por Valério Lúcio Gabriel (matéria publicada na edição de setembro de 2004)

A formação da sociedade abaeteense é composta de variadas etnias, das quais recebeu influências significantes, como das famílias italianas que aqui vieram residir no início do século XIX e no século XX, no período da Primeira Guerra Mundial. A característica econômica de Abaeté, toda voltada para o comércio, por exemplo, se deve em muito à contribuição de povos estrangeiros. Durante a nossa pesquisa histórica, surgiram fatos impressionantes, que estão bem guardadas na memória dos descendentes dos Nicoli e Nery.

Maria Joana Nicoli (Dona Tita), filha de João Nicoli e de Carlota Chiappa Nicoli, nos conta que seus pais vieram de uma região na Itália chamada Bagno de Luca: “Uma região acima de Roma, montanhosa, repleta de plantações de uvas, tudo muito chique, principalmente a estação de trem” (Dona Tita já esteve lá!).

Saíram da bela Itália com um filho nos braços, o José Nicoli – pai de D. Nicolina, de João, José, Teresinha, Catarina, Domingos e Antônio (Nino). Foram residir primeiramente em Quelux (SP), onde nasceram Amado, Tito e Geraldo. Depois, foram para Santa Bárbara, onde residiam os familiares da avó de Dona Tita , a família Tomazzi. Em seguida, mudaram-se para São João Del Rei, onde se estabilizaram financeiramente com o comércio de banha de porcos.

Um dia, um amigo sugeriu ao Sr. João Nicoli e seus irmãos que fossem mais para o interior das Minas Gerais, onde ganhariam muito dinheiro. Assim o fizeram. Chegaram a Abaeté. Aqui, montaram uma fábrica de banha e uma serraria, no local onde hoje é o Bairro dos Nery.

Dona Tita, aos 10 anos de idade, foi para BH, estudou no colégio Sagrado Coração de Jesus. “Fui professora por 30 anos”, conta, com o maior orgulho. Seus pais, os Nicoli, gostaram tanto daqui, que até se naturalizaram brasileiros.

Dona Carlota Chiappa Nicoli, sua mãe, no início teve dificuldades em se ambientar com o clima do Brasil. Voltou à Itália com o filho menor, o José, e grávida de Amado. Ficou lá por um tempo e então voltou definitivamente, vindo residir em Abaeté, constituir a sua família e levar importantes influências que, em parte, caracterizam a nossa Cidade-Menina até hoje!

HISTÓRIAS CONTADAS DE GERAÇÃO A GERAÇÃO

por Maria Tereza de Faria Lataliza

Em meados de 1880, partem da Itália quatro jovens italianos, fugindo de guerras e revoltas no país. Os irmãos Antônio, Clemente, César e Caetano Nery desembarcam em São Paulo, deixando para trás a terra amada. Chegam ao Brasil em busca de paz, trabalho, trazendo nos corações muita esperança, vontade de vencer, de lutar. Após uma longa viagem, desembarcam em São Paulo. Por força do destino, depois de vários dias viajando, chegam a Abaeté. Aqui se estabelecem, comprando as terras onde hoje é o bairro dos Nerys.

Para os recém-chegados italianos, começa uma vida de luta, glórias e muita dedicação ao trabalho. Montam a primeira Olaria, para a fabricação de telhas. Cultivando as lembranças da terra Natal, fabricam também vinhos de uva, jabuticaba, jambolão, além de licores de várias frutas.

Já estabelecidos no Brasil, os quatro irmãos, com muita saudade da irmã e sobrinha que ficaram na Itália, pedem para que elas venham se juntar a eles. Assim, partem também para o Brasil, Theresa Nery e sua filha de 12 anos, Maria Gnudi (Maria Nery). Viajam 24 dias e 24 noites até o porto de São Paulo. Durante a viagem de navio, encantado por sua beleza, o comandante pede a Dona Theresa Nery a mão de Maria Gnudi em casamento. A mãe não permite, devido à pouca idade da filha.

Com alegria, os quatro irmãos vão buscá-las na estação do trem de ferro, no conhecido Paredão. Para continuar a viagem até Abaeté, viajam em um carro de boi, dormindo nos cerrados.

Nascida na baixa Itália (Bologna), Maria Gnudi conhece o também imigrante José Nicoli, nascido em Bagno de Luca, filho de João Nicoli e Carlota Chiappa Nicoli. Casam-se em Abaeté e, desta união, nascem oito filhos: Nicolina Nicoli, João Nicoli, Natalina Nicoli, Domingos Nicoli (Dominguinho), Terezinha Nicoli, José Nicoli, Maria Catarina Nicoli e Antônio Nicoli (Nino).

Os imigrante italianos trazem várias peças religiosas (pois eram muito católicos), relíquias como Nossa Senhora da Imaculada Conceição trabalhada em ouro, feita em porcelana italiana, um relicário de Santa Luzia, uma cruz pequenina que, colocada bem próximo ao olho, remete claramente o Santuário de Loretto.

Trazem também uma Santa talhada em pedra, doada à família durante a demolição de uma antiga cadeia. Esta Santa, que deve ter 600 anos, encontrava-se dentro de uma parede, sendo uma surpresa, uma emoção sua descoberta. A pedido do casal José Nicoli e Maria Gnudi, esta Santa deve permanecer na família, sempre pertencendo ao neto mais velho. Hoje, Zezé, filho de Natalina Nicoli e Toizinho Nery, está com a Santa, que será repassada ao filho mais velho de cada geração.

Trazem também, no porão do navio, louças, porcelanas antigas, a carretilha que serve para cortar a massa do macarrão caseiro italiano, tão famoso, que era feito por Terezinha e Catarina Nicoli, em receitas como a Sápula (abraço).

A família Nicoli possui fotos, postais, cartas de parentes e amigos deixados na Itália, como Laura e Lívia Zanotti Zerbini. Para matar a saudade, as amigas se correspondem por vários anos: este é o jeito de amenizar a saudade da amada Itália, pois nunca mais José Nicoli e Maria Gnudi puderam visitar sua terra natal.

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