Por Daiane Barbosa
Desde menina, Aline Alves se encantava com aquelas mulheres que pareciam flutuar entre as nuvens. Dizia, com os olhos brilhando: “quero ser uma daquelas do avião”. Sem saber ainda o nome da profissão, já cultivava um sonho que a levaria longe. Hoje, aos 44 anos, a abaeteense percorre os céus do Brasil como comissária de bordo, realizando o desejo que nasceu na infância e inspirando outras jovens de sua terra a acreditarem em seus próprios voos.

Filha caçula do caminhoneiro José Augusto, conhecido como Zé do Calixto e da Maria Joaquina, a “Kininha”, foi criada com seus dois irmãos mais velhos com esforço e valores sólidos. Aline lembra que sempre teve o essencial. “Fui criada no simples, sem muito luxo, mas com educação, vestuário e alimentação. Meu pai e minha mãe sempre trabalharam duro pra isso.” O trabalho também veio cedo. Aos 12 anos, já limpava a casa da avó aos sábados e, desde então, nunca mais parou de trabalhar. Seu último emprego na cidade foi como servidora pública na Prefeitura de Abaeté.
Em 2018, se mudou para a capital e, em seguida, para São Paulo em busca de novas oportunidade, mas a virada veio após um momento difícil em sua vida. Em 2020, após uma grande perda pessoal, ela voltou para Abaeté para se reerguer emocionalmente e logo se mudou para Uberlândia, a fim de recomeçar sua vida profissional. Foi ali que decidiu dar o primeiro passo em direção ao sonho. “Mexendo no Instagram, vi uma escola de comissária. Falei com minha mãe: agora é a hora.”
Mesmo em meio à pandemia, encarou seis meses de curso online, com determinação, candidatando-se a todas as vagas que surgiam. “No fim de 2021, a Gol me chamou para trabalhar no Aeroporto Internacional de São Paulo.” Foram quase três anos no maior aeroporto da América Latina até passar no processo interno para comissária de voo.

A formação exigiu muito mais do que conhecimentos técnicos. “Passei por um treinamento de sobrevivência na selva. Ficar sem comer, sem água, usar o que a natureza oferece como abrigo. Foi meu maior desafio. Mas aí a gente descobre do que é capaz”, relembra Aline.
Sem nunca pensar em desistir, Aline conta que enfrentou muitos comentários desanimadores. “Falavam que era impossível, que eu não tinha “padrão” necessário. Isso só me deu mais vontade de provar o contrário. Quanto mais falavam, mais eu corria atrás”, diz.
Hoje, morando em São Paulo, ela leva na bagagem histórias, aprendizados e um orgulho mineiro que não disfarça. “Adoro quando me chamam de mineirinha. Minhas raízes são meu alicerce”, afirma com orgulho.
Sobre a profissão, ela é direta: “O bom é não ter rotina. Cada dia estou em um lugar diferente, com pessoas diferentes. Aprendemos a ter mais empatia. Além de estar sempre atenta à segurança do vôos. Às vezes, viramos psicólogos dentro do avião. Só pelo olhar percebemos que alguém precisa de acolhimento”, relata.
Mesmo longe, Aline procura manter vivo seus vínculos abaeteenses com amigos e familiares. Quando perguntada sobre o que levaria de mensagem aos jovens da cidade, Aline não hesita: “Acreditem nos seus sonhos. Não deixem ninguém dizer que vocês não podem. Corram atrás, estudem. Eu abdiquei de muita coisa pra chegar onde estou, mas hoje sou realizada”, destaca.
E sobre o futuro? “Só saio da aviação quando eu morrer”, brinca. “Me encontrei nessa profissão. Trabalho com o que amo. A frase do Confúcio nunca fez tanto sentido: ‘Trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar na vida’.”
