Publicado na edição nº181 em outubro de 2010
Quem disse que política e cidadania são coisas de adulto? Para os nove integrantes da 1ª Câmara Mirim de Abaeté, com idades entre 7 e 14 anos, estes dois assuntos estão sempre na ordem do dia. Pouco mais de seis meses após serem eleitos e empossados como representantes de suas escolas, os vereadores mirins já dão um show de consciência política cidadã, capaz de causar inveja a muito marmanjo.
Um exemplo é a presidente Vera Lúcia Pereira Galdino, 14 anos, aluna da 8ª série da Escola Municipal Irmã Maria de Lourdes. “Eu odiava política, entrei na disputa por brincadeira e depois vi que se tratava de algo muito sério”, conta, satisfeita com os primeiros resultados de seu trabalho: “Já fui atendida pelo prefeito na indicação de uma pequena reforma na minha escola, que tinha alguns buracos no pátio e falta de piso em algumas salas”. “Agora, estamos insistindo para que a Prefeitura reforme a quadra de esportes do bairro São Pedro, construindo um muro no lugar do alambrado, que foi todo arrebentado por atos de vandalismo. E desde o início, estamos pedindo placas de sinalização e um quebra-molas na porta da escola, para evitar novos acidentes, como o que tirou a vida de uma senhora há pouco tempo”, completa Vera, com planos de se candidatar à Câmara Municipal de Abaeté em 2016.
Disputar futuramente um cargo nas eleições municipais é também a intenção da vereadora mirim Camila de Almeida Oliveira, 10 anos, aluna da 3ª série da Escola Estadual Barão do Indaiá. “Estamos aprendendo muito sobre a cidade, as leis, a Câmara Municipal, para poder ser vereadores de verdade quando crescer. Por enquanto, é muito bom ser líder na escola, ter essa responsabilidade”, declara. Para Fábio Alexandre Alves Souza Jr, 12 anos, aluno da 6ª série da E. E. Frederico Zacarias, além do aprendizado, o legal é interagir com a cidade e os colegas da escola. Mesmo enfrentando muitas cobranças. “Os meninos sempre chegam pra mim, perguntam o que eu já fiz para melhorar a escola, criticam, cobram melhorias na quadra. Embora eu não seja vereador de verdade, acho isso bom, porque o político é um empregado do povo e tem que saber receber as críticas, as sugestões e trabalhar sempre para cumprir o que prometeu”.
Uma das preocupações dos vereadores mirins é com relação às poucas ou quase inexistentes opções de lazer e esporte para crianças e jovens na Cidade Menina. “O Executivo precisa investir mais nessa área, que é muito importante para tirar os meninos da rua e das drogas. Por falta de uma boa distração para os jovens, tem muita menina e muito menino que vão para o bar ou coisa assim sem ter idade para isso”, desabafa Ana Clara Pereira Lage de Oliveira, 12 anos, aluna da 6ª série da CNEC. A ideia dela, compartilhada pelos colegas do legislativo mirim, é mobilizar as escolas da cidade para realizar a tão necessária revolução cultural em Abaeté.
Enquanto isso não acontece, Ana Clara batalha para conseguir um ônibus para os alunos e atletas da CNEC participarem dos Jogos Escolares da Rede Pitágoras, em Varginha, de 30 de outubro a 02 de novembro. E o vereador mirim Natan de Oliveira Lara, 13 anos, aluno da 7ª série da E. E. Dr. Edgardo da Cunha Pereira, tem cobrado do prefeito uma nova cobertura para a quadra da Praça de Esportes. “O prefeito nos disse que já tem a verba para cobrir a quadra, mas está esperando novos recursos para reformar toda a Praça de Esportes”, informa Natan, que disputou a mais concorrida das eleições à Câmara Mirim. Nada menos que 16 alunos candidatos do Estadual concorreram ao cargo.
“A eleição, realizada dia 12 de março, foi um show de democracia e participação”, na avaliação da diretora Maria Aparecida Pereira da Silva. “A ideia foi excelente para colocar as crianças e adolescentes para participar da democracia, entender o que é realmente uma eleição e qual a importância da participação de cada um em todo o processo político”, completa. E era exatamente essa a intenção da vereadora Rosa Maria Marques Cunha (Rosa Psicóloga), ao apresentar o projeto na Câmara Municipal. “A Câmara Mirim é um sonho que estamos vendo realizado. Todas as escolas da cidade foram contempladas com um vereador mirim, com exceção da Tenente Ezequiel, que só tem crianças até seis anos. As eleições foram realizadas segundo as regras do vereador adulto, com campanha política, apresentação de propostas, voto secreto. E os vereadores mirins se reúnem de 15 em 15 dias na Câmara para manter o vínculo. Com isso, eles estão despertando para aquela ideia: o que eu posso fazer para melhorar a minha escola, a minha cidade?”.
Preocupado com a dengue, o representante da APAE, Stanley Maxe Melgaço, 11 anos, pediu a retirada de um depósito de sucata de perto de sua casa, no bairro São Pedro. Portador de uma doença rara, a Mucopolissacaridose, que o impede de crescer, além de provocar dores e transtornos diversos, Stanley tem muitos planos para o futuro: ser vereador, trabalhar muito pela cidade e na igreja evangélica que frequenta. E Pedro Augusto Rodrigues Braz, 8 anos, da 2ª série do Instituto Educacional Criativo, já conta com o apoio da diretora de sua escola e presidente do Lions Clube, Cirlene Oliveira, e do gerente geral do Sicoob Credioeste, Artur Andrade, para desenvolver uma campanha que certamente vai envolver e beneficiar toda a comunidade: a colocação de placas com os nomes das ruas de Abaeté. Como isso não é da alçada da Câmara Mirim, Pedro espera que o projeto seja encampado pela Prefeitura e os vereadores adultos.
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