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A JARDINEIRA DO TEMPO

Wagner Túlio Pereira

Lá se vai a jardineira de madeira, rodando pelas estradas da Tabocas e do Paredão, onde ficava nossa estação ferroviária, perto do São Francisco. Enchia-se de passageiros com malas de esperança para outras terras, carregando também animais, rostos tristes e outros alegres. Talvez milhares de famílias tenham deixado Abaeté em busca de uma vida melhor.

A formação do lago de Três Marias separou muita gente do nosso convívio. Muitos seguiram para Brasília ou Unaí. Abaeté ficou órfã de pequenos proprietários rurais, lançados em terras desconhecidas em nome do progresso.

A jardineira não para de rodar, seguindo na direção de Pará de Minas e Belo Horizonte. Passa por Pitangui, que já foi uma região importante no garimpo de ouro e diamantes. Meu avô Bernadão, bom tropeiro e mascate, conhecia bem aquelas paragens, com seus negócios de pedras e joias.

Em Pará de Minas havia uma importante estação ferroviária do Oeste de Minas, fortalecida pela influência política de Benedito Valadares e Gustavo Capanema, que muito contribuíram para a criação da Vila Vicentina — um abrigo para idosos e pobres sem lar. Lembro do Téo da Vila, homem muito rico, que doou generosa quantia para melhorias naquele espaço de esperança.

A vida é uma escola para que possamos aprender a ser felizes. Nossa ignorância, muitas vezes, nos impede de enxergar a realidade interna e externa. Somos frutos dessa vida dupla: amor e ódio, dores e prazeres, tristeza e alegria. Nesse mundo de dualidade, resta-nos buscar o caminho do meio — o equilíbrio, o Tao — sempre lembrando que há uma jardineira a nos esperar na estação da vida.

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