Chikungunya e seus impactos na comunidade

Por Daiane Barbosa

Carla Soares, de 52 anos, teve sua carreira de nove anos interrompida devido às sequelas da chikungunya. Ela trabalhava em uma clínica veterinária e precisou abandonar a profissão. “Eu não conseguia segurar uma pinça durante as cirurgias; perdi completamente a força nas mãos. Foi muito difícil para mim, pois amava meu trabalho, sempre fui muito ativa e nunca havia me ausentado por motivos de saúde”, relembra Carla.

Em junho de 2023, ela foi infectada pela chikungunya e, desde então, tem sofrido com as sequelas da doença. “Cheguei em casa após um dia normal de trabalho sentindo muitas dores no corpo, mas achei que era cansaço. À noite, não conseguia me mexer na cama e, pela manhã, estava toda inchada. Foi quando meu marido me levou ao hospital, onde recebi o diagnóstico de chikungunya e iniciei o tratamento”, conta Carla.

Mesmo seguindo à risca as prescrições médicas, mais de um ano depois, os sintomas da doença persistem e fazem parte da rotina de Carla. “Quando achei que estava melhorando, tudo voltou com força total. Procurei um reumatologista, que fez uma série de exames e confirmou que os sintomas eram mesmo da chikungunya. Tomei muitos corticoides e agora decidi fazer Pilates, o que tem ajudado a aliviar as dores nas articulações”, relata.

A dificuldade para realizar atividades cotidianas tornou-se um desafio para muitas pessoas afetadas pela doença, impactando diretamente na qualidade de vida. Além dos tratamentos medicamentosos, essas pessoas têm buscado alternativas para aliviar as dores. “Aqui na clínica de fisioterapia, observamos um aumento de 10% no número de pacientes que buscaram tratamento devido à chikungunya. Por outro lado, cerca de 30% dos pacientes que já faziam Pilates tiveram que abandonar as aulas durante a fase aguda da doença”, explica o fisioterapeuta Eric Álvares Rodrigues, que atua há 22 anos.

Segundo ele, “é importante que o paciente mantenha sua mobilidade, mesmo com dores, para evitar o agravamento da condição. Também ressalto que a fisioterapia deve estar aliada ao tratamento médico para que o resultado seja mais eficaz”.

A realidade do município

Dados  fornecidos pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde mostram um aumento alarmante de casos das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Em 2023, foram notificados 27 casos de chikungunya, com 7 confirmações. Já em 2024, até 21 de agosto, foram 1.908 notificações, com 294 casos confirmados.

A dengue também apresentou um aumento nas notificações, passando de 1.290 em 2023 para 1.435 em 2024, com uma vítima fatal neste ano. Até junho de 2023, foram confirmados 547 casos de dengue, contra 80 em 2024. Em relação ao Zika vírus, houve quatro suspeitas, mas nenhuma confirmação nos dois anos. Os números podem ser ainda maiores, uma vez que muitas pessoas contraíram a doença e não fizeram exames. 

Importância da Prevenção

A prevenção da proliferação do mosquito ainda é considerada a melhor forma de evitar essas doenças. “Cerca de 75% dos focos do mosquito estão em águas paradas nos imóveis. Com o início do período chuvoso, é fundamental que as pessoas fiquem atentas em suas residências, evitando água parada em pratinhos de plantas, bebedouros de animais e não descartando lixo em lotes vagos ou pneus em locais inapropriados”, alerta a secretária Municipal de Saúde, Daniela Ferreira Mendes.

Apesar das campanhas anuais de conscientização recomendadas pelo Ministério da Saúde e das ações dos agentes de endemias, o surto das doenças no município mostra a necessidade de maior envolvimento da comunidade na prevenção. “É essencial que as pessoas recebam os agentes de saúde em casa, para que possam verificar a presença de focos do mosquito. Além das campanhas, utilizamos armadilhas para coletar ovos das fêmeas do mosquito, identificando se são transmissores da doença ou pernilongos comuns. Também realizamos borrifação em pontos estratégicos, como oficinas, ferros-velhos, locais de reciclagem e cemitérios, que são potenciais criadouros de mosquitos”, explica Daniela.

As doenças: sintomas e cuidados

Os sintomas da dengue e da chikungunya nos primeiros três dias são bastante semelhantes, mas se diferenciam com o tempo. “Na dengue, a febre tende a ser mais prolongada, acompanhada de desidratação, diarreia e vômitos. Na chikungunya, é comum o início com dores nas articulações e febre por três dias, além de gengivite e aftas. Ambas as doenças podem causar vermelhidão pelo corpo, que pode aparecer no início ou no final do ciclo”, detalha a médica clínica Gabriela Coelho.

Gabriela também destaca a importância de cuidados ao perceber os primeiros sintomas. “A principal recomendação é manter e intensificar a hidratação oral, além de ser cauteloso com o uso de medicamentos. Anti-inflamatórios podem aumentar o risco de dengue hemorrágica e não devem ser utilizados na fase aguda da chikungunya. Em caso de dúvidas, é fundamental procurar orientação médica para garantir que o tratamento seja realizado de maneira correta e eficaz”, adverte a médica.

Diante do surto vivenciado este ano na cidade, é essencial que toda a comunidade se mobilize para manter a cidade limpa e evitar a proliferação do mosquito. Denúncias sobre possíveis focos do mosquito podem ser feitas diretamente à equipe de Zoonoses, presencialmente, pelo e-mail casadadengue@gmail.com ou pelo telefone (37) 3541-5414.

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