Cici e a Viação Sertaneja

Texto de Wagner Tulio Pereira

Vejo no jornal a passagem do querido Cici da Sertaneja. Um ser humano que deixou marcas na história do nosso Abaeté. Empregou centenas de pessoas em seus negócios. Sempre alegre e sorridente, nos deixou o legado da honestidade e um amor ao trabalho. Teve uma visão empresarial e uma visão para o social, apoiando entidades filantrópicas, pessoas carentes, além de ampliar os horizontes no ramo de transporte.

O município de Abaeté sempre se beneficiou dos tributos gerados pela Sertaneja. O material gráfico dessa empresa era todo impresso em Abaeté, para gerar lucro e empregos em nossa cidade. Levou as cores da Sertaneja para Paracatu, João Pinheiro e outros lugarejos do meu sertão. Sertaneja é a representante sobre rodas de borracha do sertão de Guimaraes Rosa.

Muito viajei naquelas jardineiras empoeiradas, mas com o sabor da juventude no peito, querendo descobrir um novo Brasil nas terras do planalto central. Uma vontade de refazer esse país com maior justiça social.

Senti muito cheiro de fumo dentro das jardineiras. Escutei conversas de viajantes contando suas glórias e suas desgraças. Assisti aulas do Prof. Arnaldo sobre shiatsu e os benefícios das terapias naturais. Ouvi sanfona tocar dentro dos ônibus para nos alegrar e sufocar nossas lágrimas, ao deixar nossa amada na terra natal.

Ficava ansioso para chegar até a cidade de Paraopeba para comer o pastel mais gostoso do Brasil e esquecer a saudade da partida para a Capital. Lembrar das jardineiras partindo da antiga rodoviária, juntamente com os estudantes do Abaeté em busca de uma vaga de emprego ou de uma universidade.

A Sertaneja faz parte de nossas vidas. Quem não chorou na partida de seu primeiro amor para bem longe numa jardineira da Sertaneja? Apreciar as chegadas e partidas dos rolos de filmes do Cine Abaeté. Despedir de Tarzan, Cantinflas, Oscarito, Elvis Presley e tantos outros artistas que nos visitaram nas películas dos filmes pelos ônibus cheios de passageiros e ainda poder sentir o cheiro de pequi e do cerrado?

Saber disputar com as outras crianças para carregar uma mala de algum passageiro recém-chegado da Capital. Poder engraxar um sapato de couro e ter um dinheirinho para chupar um picolé de queimadinho ou de doce de leite. Ou, quem sabe, até comprar umas bananas do tio que sempre ficava por ali.

A Sertaneja e o Abaeté são duas faces da mesma moeda. Lá se vão o tempo e o Cici, que nos deixa lembranças e saudades. O tempo e a poeira do passado das jardineiras da Sertaneja ainda tocam em nossas mentes e corações.

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