EXPERTISE + RECURSOS: sucesso do Projeto MAP ilustra a potência do investimento em cultura

Patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o Projeto MAP atende cerca de 130 alunos em Abaeté e Pompéu, com aulas gratuitas de violino, violão, viola e canto coral, além do empréstimo dos instrumentos musicais durante todo o ano. Segundo o coordenador do projeto, maestro e professor Márcio Cavalcanti, a partir do ano que vem, o projeto deve se expandir com a criação de um curso de musicalização infantil para crianças a partir dos 6 anos. E para 2025, a perspectiva é criar a Orquestra Sinfônica do MAP. Confira a entrevista:

Professor e Maestro Márcio Cavalcanti: “o MAP virou um expoente em toda a região” – Foto Christiane Ribeiro

Professor Márcio, como avalia essa nova etapa do Projeto MAP, agora com o patrocínio do Instituto Cultural Vale?

O patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, facilitou para que possamos operar com ainda mais qualidade e quantidade, oferecendo 145 instrumentos musicais aos alunos em regime de comodato, com uma equipe bem remunerada e muito comprometida. Antes, já tínhamos expertise, mas, às vezes, faltava o recurso. Agora, nós estamos juntando os dois.

No edital de 2022 do Instituto Cultural Vale, apenas 41 projetos foram contemplados no Brasil inteiro, e o nível desses projetos nos deixa muito lisonjeados. O Instituto Cultural Vale patrocina, por exermplo, a Orquestra de Ouro Preto, o Grupo Galpão, de Belo Horizonte, uma orquestra de cordas famosa de Pernambuco. É com esse nível de projetos que estamos equiparados.

Na minha visão, o MAP hoje virou um expoente em toda região. Pode ser que eu esteja mal informado, mas acredito que, de Abaeté até Belo Horizonte, não existe nenhum projeto nesse patamar, com esse escopo de atender a comunidade, com essa qualidade, não só social, mas também técnica.

Este ano, estamos aperfeiçoando a questão didática, implantamos apostilas para nortear o aprendizado dos alunos, para que eles alcancem um bom nível técnico, um conhecimento por associação. Assim, se o aluno tem vontade de tocar determinada música, ele pesquisa na internet e toca, a partir das técnicas, dos conhecimentos adquiridos no curso. Isso já está acontecendo, e é muito legal esse envolvimento deles.

Alunos têm aulas práticas e teóricas, com apostilas elaboradas pelos próprios professores. Foto Gisele Ribeiro/MIGS Agência

Quantos alunos são atendidos pelo projeto hoje?

Hoje, temos cerca de 130 alunos de violino, violão e canto coral. Em Pompéu, o projeto oferece também aulas de viola.

O Projeto MAP nasceu em Abaeté, em 2019, e, no ano passado, com o patrocínio da Agropéu, se estendeu para Pompéu. São dois municípios bem diferentes na questão social. Em Abaeté, o projeto atende um pessoal mais de classe média. Em Pompéu, uma cidade mais populosa, com mais empresas, muitas pessoas que vêm de fora para trabalhar, encontramos uma situação mais crítica, com mais violência, tráfico de drogas, famílias desestruturadas.

O Projeto MAP nasceu em Abaeté, em 2019, e, no ano passado, com o patrocínio da Agropéu, se estendeu para Pompéu – Foto Gisele Ribeiro/MIGS Agência

Então, o projeto hoje serve como uma válvula de escape para muitos alunos. E ficamos felizes, porque ele não tem só um escopo técnico e musical, o projeto faz um atendimento social mesmo, de cidadania, de levar uma nova oportunidade às crianças e jovens.

Um dos desafios que estamos enfrentando é a evasão de alguns adolescentes a partir de 14 anos de idade, que tiveram que deixar o projeto para trabalhar.  Estamos pensando em como contornar isso, como oferecer novas perspectivas de uma carreira na música, especialmente para aqueles que demonstram mais aptidão e dedicação. Precisamos de alunos que vão se tornar monitores, de monitores que vão se tornar professores. Assim, conseguiremos gerir toda uma rede de conhecimento, e o projeto poderá crescer exponencialmente.

Professor Márcio, isso já está acontecendo, não é? Os monitores do MAP são ex-alunos.

Sim. E já temos dois monitores que serão professores auxiliares no projeto de 2024, a Júlia e o Miguel. Júlia começou em 2017 no projeto  “Música na Escola”, desenvolvido na E. E. “Frederico Zacarias”, e entrou no curso de violino em 2019. Agora, estou dando mentoria para ela se tornar uma professora de violino, no ano que vem. Assim, conseguiremos ampliar o nosso atendimento.

Júlia, que começou em 2017 no projeto “Música na Escola”, é hoje monitora e recebe mentoria para se tornar professora de violino no ano que vem. Foto Foto Gisele Ribeiro/MIGS Agência

Um dos problemas que nós temos aqui na região, por ser interior, é a falta de mão de obra especializada, de professores formados em Música ou com uma boa formação técnica. Então, já estamos vislumbrando que esses alunos dedicados possam ser o futuro e dar continuidade ao projeto.

Nós temos dois dias de aulas por semana no pólo de Abaeté e dois dias em Pompéu, com turmas coletivas de até 15 alunos. Se eu tenho um professor a mais, consigo atender mais 15 alunos em cada pólo. E esses novos professores serão coordenados pela minha direção artística, para homogeneizar o projeto, ficar a mesma linha de pensamento em tudo.

Um ponto alto do ano foi a excursão ao Palácio das Artes – Foto Gisele Ribeiro/MIGS Agência

Um dos destaques deste ano foi a viagem dos alunos a Belo Horizonte, para assistir a apresentação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, no Palácio das Artes. Qual o objetivo dessa excursão?

Essa viagem foi uma espécie de um intercâmbio cultural, porque tem muitos alunos aqui que nunca tiveram a oportunidade de assistir uma orquestra ao vivo. Então, é uma forma de despertá-los para essa possibilidade. No futuro, eles poderiam estar tocando nesta orquestra. Ou ainda que não seja tão ambiciosa essa ideia deles, que eles possam ter essa experiência ao vivo, de estar num teatro profissional, com tratamento acústico e tudo. Foi uma viagem muito produtiva, os alunos gostaram demais. O maestro era até estrangeiro, Stephen Trinkle, dos Estados Unidos, tivemos uma intérprete para o bate-papo com ele depois.  

Antes da viagem, fiquei um pouco preocupado. Como eles nunca tinham assistido uma orquestra, achei que iam se dispersar, ficar com sono. Mas, na verdade, foi uma hora de concerto e eles ficaram ligados o tempo todo. Depois, fomos para o Parque Municipal de Belo Horizonte e ali eles tiveram também essa questão de convivência, puderem brincar, aproveitar aquela realidade.

Algumas alunas que estavam do meu lado no ônibus começaram a observar a cidade de Belo Horizonte como se fosse uma coisa futurista, de outro mundo. Nunca tinham ido na capital,  estavam admirando o tamanho dos prédios. Tudo isso foi interessante, porque expandiu a visão deles.

Assistir a apresentação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais foi emocionante para os alunos – Foto Gisele Ribeiro/MIGS Agência

O MAP também está em fase de ascensão, com novos projetos para serem implantados a partir de 2024, não é?

Sim. Um deles é um curso de musicalização infantil para crianças a partir dos seis anos, sempre buscando referência em projetos premiados, como o Instituto Baccarelli, em São Paulo, uma das organizações sociais de cultura mais respeitadas no Brasil, que formou a primeira orquestra do mundo em uma comunidade carente,  quebrando diversas barreiras.

Para 2025, planejamos criar a Orquestra Sinfônica do MAP. Já estamos trabalhando para isso na área técnica, de conhecimento, coordenação motora. E, dentro desse projeto, podemos até criar uma bolsa de estudos, para o aluno não ter que abandonar o curso para trabalhar, para ajudar no orçamento da família. Os nossos monitores já têm uma remuneração para atuar no projeto.

É o MAP desenvolvendo a economia criativa na região?

Sim. O interessante é que todo o valor patrocinado pelo Instituto Cultural Vale é investido localmente, movimentando a nossa economia. Além dos cinco monitores, dos professores, da coordenação, secretaria, nosso projeto investe na contratação de profissionais locais, como técnico de som, técnico de luz, fotógrafo, aluguel de espaço para o escritório, para aulas e apresentações. Assim, vai gerando poder de compra, que é revertido na economia local. Isso é muito importante, porque a cultura começa a ter um status de movimentar a questão financeira do município. Já protocolamos a continuidade do projeto para o edital 2023 do Instituto Cultural Vale e esperamos ser contemplados novamente.

Os encontros de família são marcados pela emoção ao ver os filhos, netos, sobrinhos, irmãos desenvolvendo habilidades musicais, com boas perspectivas de sucesso na arte e na vida – Foto Christiane Ribeiro

Gostaria de fazer mais alguma observação?

Gostaria de agradecer aos pais, aos alunos, à comunidade em geral.  Graças a Deus e ao apoio de todos, o MAP está estruturado para fazer girar esse mecanismo cultural. Se você monta um projeto e, de repente, não tem adesão da comunidade, a tendência é que esse projeto vá enfraquecendo até acabar. Hoje, desde as ações que eu comecei em Abaeté em 2017, com o Projeto Música na Escola Estadual Frederico Zacarias, a gente vem só crescendo.

No ano passado, tivemos que desenvolver 70% do projeto MAP em Pompéu, devido ao patrocínio da Agropéu.  Este ano, conseguimos ampliar nosso projeto com as mesmas modalidades e estudantes das duas cidades, Abaeté e Pompéu. São dois pólos que  funcionam com uma certa independência.

No ano passado, só tivemos um espetáculo de encerramento do ano, em Pompéu, devido a questões financeiras e logísticas. Neste ano de 2023, como o patrocínio foi muito ampliado, faremos as Mostras de Música nas duas cidades em grandes eventos. Em breve, vamos começar a divulgação das apresentações, e todos terão a oportunidade de participar de um espetáculo grandioso, digno de grandes cidades.

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