Texto adaptado por Wilton Ronald
Entre os vales e rios do centro-oeste mineiro, onde hoje pulsa a vida tranquila de Martinho Campos, o tempo guarda lembranças de um passado movido pela esperança, pela fé e pela busca por novos caminhos. Ainda nos primeiros anos do século XIX, quando o ouro abundava nas minas de Pitangui, o brilho do metal começava a esconder uma dura realidade: fartura de riquezas, mas escassez de alimentos.

Naquela época, o desejo pelo ouro era tão intenso que poucos se preocupavam com o cultivo da terra. A fome atingia famílias inteiras. Foi nesse cenário que dois homens mudaram o rumo da história local: Maximiano Araújo, vindo de Pernambuco, e Jerônimo Vieira, português de origem, ouviram falar das terras férteis e das águas abundantes da região às margens do rio Pará e do São Francisco. Incentivados por Dona Luiza Medeiros, proprietária da Fazenda Monjolos, partiram em busca de um novo recomeço.
Maximiano se fixou próximo ao Córrego do Junco. Jerônimo, por sua vez, escolheu a Barra do Rio Pará como lar. Logo, ambos prosperaram com a produção agrícola, abastecendo as vilas vizinhas e salvando vidas onde antes havia apenas escassez.
A fé que carregavam no coração os motivou a construir uma igreja como forma de gratidão pelas bênçãos recebidas. Mas a escolha do local da construção se tornou uma questão delicada: cada um desejava que o templo fosse erguido perto de sua propriedade. Em um gesto de sabedoria e amizade, decidiram resolver a questão de forma inusitada: sairiam ao mesmo tempo de suas fazendas e caminhariam em direção à propriedade um do outro. Onde se encontrassem, ali ergueriam a casa de Deus.


O ponto do encontro foi marcado com uma cruz de madeira, e ali foi construída a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Abadia, marco religioso e histórico da cidade. Impressionado com a semelhança do local com sua terra natal, onde existia um convento da Ordem dos Abades, Jerônimo sugeriu o nome Abadia, que rapidamente se espalhou entre os moradores do povoado em formação.
Para fortalecer a devoção local, ele mandou vir de Portugal uma imagem de Nossa Senhora da Abadia, entalhada em madeira, que até hoje permanece como símbolo de fé na matriz do município.
O pequeno arraial cresceu e se desenvolveu. Em 8 de junho de 1858, recebeu o título de distrito, batizado oficialmente como Abadia de Pitangui, pertencente ao município-mãe. Décadas depois, já consolidado como um polo regional, foi elevado à categoria de município autônomo no dia 17 de dezembro de 1938. Nascia, oficialmente, Martinho Campos, nome dado em homenagem ao político e jurista nascido na região de Pitangui, que marcou seu tempo com grande influência no cenário mineiro.
Hoje, ao caminhar pelas ruas de Martinho Campos, é possível sentir os ecos dessa trajetória. Uma história que não nasceu do ouro, mas sim da terra fértil, da fé inabalável e da união de pessoas que sonharam — e construíram — um futuro melhor.