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Memórias do carnaval de Abaeté

O primeiro bloco de carnaval de Abaeté, “Quem ri de nós tem inveja”, foi criado em 1937, no bairro Marmelada.

Segundo o livro “História de Abaeté”, de José Alves de Oliveira, até a década de 30, o carnaval abaeteense se resumia ao “entrude”, a brincadeira de molhar o próximo com água de cheiro… até que foi inaugurado o Abaeté Clube, numa casa velha, com esteio e janelas de madeira, demolida anos depois para a construção da nova sede. Ali, no final dos anos 30, a elite da cidade começou a brincar o carnaval.

O primeiro bloco de carnaval de Abaeté, “Quem ri de nós tem inveja”, foi criado em 1937, no bairro Marmelada.

Banda de Música do mestre Waltinho, que tocava nos carnavais de Abaeté, na Administração do Dr. Guido.

Com o fim da ditadura Vargas, em 1945, e a divisão política de todo o país, o Abaeté Clube ficou restrito aos partidários da UDN (liderada pelos Cunha Pereira). E os simpatizantes do PSD (liderado pela família Álvares da Silva) fundaram o Nosso Clube, na esquina das ruas Antônio José Pereira e Getúlio Vargas.

Em 67, o ponto de encontro da galera que não frequentava os clubes do centro da cidade era a sede do Frejó, no Pau d’Óleo, onde eram promovidos bailes nos fins de semana e um carnaval bem popular. Enquanto nos clubes, era preciso ser sócio e até usar gravatas, ali todos ficavam mais à vontade e dançavam a noite inteira.
Em um baile de carnaval do Abaeté Clube, nos anos 50, com vestidos bem comportados ou terno e gravata, Helena do Sueta, Osmar Gomes, Celina Guimarães e João da Eva.
Em 67, o ponto de encontro da galera que não frequentava os clubes do centro da cidade era a sede do Frejó, no Pau d’Óleo, onde eram promovidos bailes nos fins de semana e um carnaval bem popular. Enquanto nos clubes, era preciso ser sócio e até usar gravatas, ali todos ficavam mais à vontade e dançavam a noite inteira.
Abaeté Clube nos anos 70/80, ao lado do Bar Brasil, na Praça Rui Barbosa, renomeada posteriormente para Praça Dr. Canuto.

E como começou o carnaval popular na Praça Dr. Canuto? Ou, na época, Praça Rui Barbosa? Haroldo Francisco de Oliveira, o Haroldinho, conta:

Em 1980, o então prefeito Dr. Carlos Valadares teve a idéia de fazer uma decoração com corações, começando em frente a Casa Moura, na rua Getúlio Vargas, e indo até a Rua Dr. Antônio Amador, perto da Casa Jafet. Nós passamos a madrugada na Prefeitura fazendo este trabalho voluntário, que deu um ar bem gostoso no carnaval. Em 81, nós voltamos com esta decoração e, naquela casinha de táxi, colocamos duas cornetas e um gravador pequeno. Imagine o som da época! Ninguém tinha coragem de pular o carnaval na rua. Eu pegava nas mãos das crianças e fazia aquelas rodinhas.

“Em 1980, o então prefeito Dr. Carlos Valadares teve a idéia de fazer uma decoração com corações, começando em frente a Casa Moura, na rua Getúlio Vargas, e indo até a Rua Dr. Antônio Amador, perto da Casa Jafet. Nós passamos a madrugada na Prefeitura fazendo este trabalho voluntário, que deu um ar bem gostoso no carnaval. Em 81, nós voltamos com esta decoração e, naquela casinha de táxi, colocamos duas cornetas e um gravador pequeno. Imagine o som da época! Ninguém tinha coragem de pular o carnaval na rua. Eu pegava nas mãos das crianças e fazia aquelas rodinhas.”

Em 81, Haroldinho animou o carnaval de rua na Praça Dr. Canuto com duas cornetas e este pequeno gravador.

Waltinho, Fiinho, Zé do Dario, Jorge Barbeiro, Caetano e João do Trombone eram os integrantes do Jazz Band Marmelada, que animava carnavais e festas da região nas décadas de 50, 60, 70.

Carnaval nos anos 80, festa na Praça e no Abaeté Clube.

Em 82, o carnaval de rua evoluiu, quando Dr. Carlos contratou a banda que animava os foliões no Abaeté Clube para tocar também do lado de fora até às 10 da noite.

“Em 83, já na administração Dr. Guido, a Prefeitura contratou a banda de música ‘Furiosa’ e fizemos a festa na rua até às duas da manhã. Andei a cidade toda procurando pessoas interessadas em colocar barraquinhas na praça. Ninguém tinha coragem. Só conseguimos montar uma barraca, a do ex-vereador José João, que, com o dinheiro dos quatro dias de carnaval, comprou um carro zero. No ano seguinte, já eram oito barracas”, historia Haroldo. Elas eram construídas de materiais como bambus, latões, com cobertura de palhas ou lonas até 2006, quando a Prefeitura iniciou a padronização das barraquinhas e o aluguel de banheiros químicos para os foliões.

 

Escola de samba Olhos d’água desfilou em Abaeté de 1984 até 1992.

Em 1984, a Escola de Samba do Abaetezinho foi reformulada por uma equipe liderada por Valério Lúcio Gabriel, que trocou seu nome para “Olhos d’Água”. Desfilou até 92, ganhando praticamente todos os desfiles carnavalescos promovidos pelas administrações Dr. Guido e Dr. Fernando. A partir daí, não houve interesse das administrações municipais pelos desfiles de escolas de samba na rua.

Abaeté já teve o “carnaval mais baiano das Gerais”!

Trio Elétrico HP2 anima o carnaval popular desde 2000.

Em 1998, numa iniciativa do Movimento dos Abaeteenses na Capital (MAC), o primeiro trio elétrico circulou timidamente por algumas ruas de Abaeté durante o carnaval.

Primeiro carnaval temporão de Abaeté reuniu cerca de 10 mil foliões em maio de 2003.

A partir de 2000, o Trio Elétrico HP 2 começou ser contratado pela Prefeitura para animar o carnaval, em um ponto fixo da Praça Dr. Canuto, na Rua Getúlio Vargas. Em 2001, a Prefeitura de Abaeté iniciou a concretização do sonho de “trazer o carnaval do Recife e da Bahia para Abaeté”, com uma melhor organização das barraquinhas e apoio ao trio elétrico “Triboauê”, que fez um pequeno percurso pelas ruas centrais de Abaeté, com vendas de abadás, ducha e cordão de isolamento.

Esse novo estilo baiano do axé e do trio elétrico pelas ruas da cidade ganhou um novo impulso no primeiro carnaval temporão de Abaeté, que reuniu cerca de 10 mil foliões em maio de 2003… e revelou-se uma grande frustração no carnaval de 2004, promovido pela Beta Brasil, com apoio da Prefeitura. Naquele ano, as cerca de 1.500 pessoas que adquiriram os abadás mal puderam sentir o gostinho de foliar “atrás do trio elétrico”. Além de começar muito tarde, por volta de duas horas da madrugada, o percurso pelas ruas da cidade foi prejudicado pela chuva.

Nesse ano, a grande sensação do carnaval foi a Banda Delyrius. Apontada nos cartazes como uma atração secundária frente a tantas novidades, a banda que subiu no palco armado ao lado da Praça Dr. Canuto “roubou a cena”, tanto nos bailes noturnos como nas matinês.

Em 2005, com maior profissionalismo e organização, os empresários Alexandre Lucas Pereira (Duca) e Ricardo Teodoro (Manteiga) lançaram o Abaeté Folia, anos depois consagrado como um dos melhores carnavais de Minas, pela sua organização, estrutura, segurança, shows de alto nível e aglomeração de gente bonita. Nesse primeiro ano, foram vendidos cerca de 1.500 abadás para o bloco NALATA, e a boate itinerante Taj Mahal, montada na Praça de Esportes, recebeu um público médio de 2.000 pessoas por noite. O trio elétrico circulou pelas ruas da cidade de 18 às 22 horas, estacionando na Praça Dr. Canuto às 23 horas, para animar o carnaval popular.

O mesmo esquema foi montado no ano seguinte, 2006, quando o número de abadás vendidos dobrou para 3.000 e cerca de 100 casas foram alugadas na cidade para os foliões visitantes, inaugurando uma nova e até então inusitada fonte de renda para Abaeté.

O Abaeté Folia começou como o bloco Na Lata e a boate itinerante Taj Mahal montada na Praça de Esportes.

Banda D’liryus, com Diego, Amanda Alves, Marconi, Mozair e outros, foi a grande sensação do carnaval 2004.

Em 2006, cresceu o aluguel de casas para os turistas durante o carnaval, algo até então inusitado.

A festa cresceu em 2007, com a introdução de um trio de apoio com camarote para 160 pessoas e montagem de duas boates itinerantes na Praça de Esportes, com praça de alimentação. Nesse ano, segundo os organizadores Duca e Manteiga, foram vendidos cerca de 4.500 abadás, 80% para jovens residentes em Belo Horizonte, que movimentaram o comércio da cidade de forma geral.

Em 2008, o carnaval de Abaeté foi apontado pela imprensa como um dos melhores das Gerais. O evento cresceu com a montagem do primeiro camarote open bar para 600 pessoas, trio de apoio, três boates itinerantes na Praça de Esportes e mais de 4.000 abadás vendidos. No centro da cidade, a paisagem se modificou, com a transformação de lojas, alpendres, garagens, banca de revistas e até construções em barzinhos improvisados.

Em 2008, o carnaval de Abaeté foi apontado pela mídia como um dos melhores das Gerais.

Em 2008, o carnaval de Abaeté foi apontado pela mídia como um dos melhores das Gerais.

Em 2009, o Abaeté Folia começou a ser divulgado na mídia como “o melhor carnaval de Minas”, ou “o carnaval mais baiano das Gerais”: um dos poucos do estado com circuito de rua, trio elétrico e bandas ao vivo, numa mistura de axé, música eletrônica e o pop rock das três boates. Nesse ano, foram vendidos cerca de 1.600 camarotes e 3.400 abadás. A grande atração foi a Banda Via Circular, de Salvador. O estilo sertanejo elétrico foi introduzido no Abaeté Folia em 2010, com a dupla João Paulo e Eduardo. Outros destaques foram a banda Rapazolla e a introdução de shows ao vivo no camarote durante o percurso do trio, que contou com duas apresentações por noite. Foram vendidos 2.000 camarotes e 5.000 abadás.

Em 2011, a capacidade do camarote open bar dobrou para 4.000 pessoas, superando os 3.000 abadás vendidos. Nesse ano, o carnaval de rua foi prejudicado pelos cerca de 350 milímetros de chuvas que caíram nos cinco dias de folia, mais que o volume registrado nos meses de janeiro e fevereiro, que somaram 273 ml.

Em 2012, cerca de 70 mil pessoas foram às ruas de Abaeté para assistir o show de Michel Teló.

Considerado pela população de maneira geral como o melhor de todos os tempos, o carnaval 2012 bateu recordes de público, geração de renda, queda na criminalidade e divulgação da cidade a nível nacional. De acordo com estatísticas da Polícia Militar, Abaeté recebeu aproximadamente 70 mil pessoas no sábado, 18 de fevereiro, para o show de Michel Teló, que, durante três horas, circulou no trio elétrico pela Avenida Simão da Cunha.

Ainda de acordo com a PM, na segunda-feira, 20, 50 mil pessoas foram às ruas para assistir ao show da dupla João Bosco e Vinícius. Segundo cálculos da Prefeitura junto aos gerentes das agências bancárias da cidade, cerca de R$ 10 milhões entraram na cidade durante o carnaval 2012. Não faltou água, energia elétrica, comida, bebida ou alojamento para os visitantes e visitantes, e o índice de criminalidade foi considerado muito baixo pela PM, devido à dimensão da festa.

O carnaval de 2012 foi considerado o melhor de todos os tempos pela população em geral.

Em 2015, o trio elétrico ficou concentrado na rua Dr. Antônio Amador, e a elitização da festa gerou polêmicas.

No Abaeté Folia 2013, a grande atração foi a dupla Fernando & Sorocaba, que não se apresentou no trio elétrico, mas na boate, com capacidade para 6.000 pessoas. Em 2014, o Abaeté Folia foi transferido para o Campo do Atlético e, mais uma vez, as grandes atrações se apresentaram na boate: a banda baiana Psirico, a dupla sertaneja Henrique & Juliano e a cantora Anitta. O trajeto do trio elétrico ficou restrito ao Campo do Atlético, e houve muitos protestos da população contra os abusos dos paredões de som na Praça da Prefeitura.

A polêmica com relação ao Abaeté Folia cresceu em 2015, quando o trio elétrico ficou concentrado na rua Dr. Antônio Amador, em frente ao camarote, limitando-se a andar alguns metros, ora de frente, ora de ré, no espaço fechado entre as Avenidas Simão da Cunha e Barão do Indaiá. A elitização da festa, que se tornou mais fechada e excludente, inibindo uma melhor distribuição de renda, gerou acirrados debates na Câmara Municipal, pela insatisfação de lideranças, vereadores, comerciantes e da população em geral.

Em uma mega estrutura montada no campo do Atlético, o Abaeté Folia 2015 reuniu cerca de 15 mil pessoas por noite, segundo estimativa dos organizadores, em mais de 75 horas de música, 30 shows, 18 DJs e cinco festas. As maiores atrações da festa foram Gusttavo Lima, Henrique e Juliano, Luxúria, É o Tchan, Érick Pimenta e MC Guimê.

Em 2016, o Abaeté Folia passou a ser promovido pela Nenety Eventos e teve Wesley Safadão como principal atrativo.

Em 2017, cantores como Marília Mendonça se apresentaram no palco da boate.

Na 11ª edição do Abaeté Folia, em 2017, uma média de sete mil pessoas por dia participaram da festa promovida por Nenety Eventos, com shows de Marília Mendonça, Zé Neto & Cristiano, Dennis DJ, Matheus e Kauan, Molejo, Vintage Culture, Victor e Fabiano, DJ Zeu, Samboleiros e outros.

A última edição do Abaeté Folia foi realizada em 2018.

Em 2018, com o estrondoso crescimento do carnaval de blocos de Belo Horizonte e os efeitos da crise econômica, foi menor o número de turistas e abaeteenses que participam do Abaeté Folia, bem como a quantidade de casas alugadas e a movimentação da economia da cidade. Nesse ano, as grandes atrações do evento foram Gusttavo Lima, Henrique & Juliano, É o Tchan, Dennis DJ, Alexandre Peixe e MC Kevinho… A abertura do carnaval, dia 09, foi marcada por um temporal, por volta de meia-noite, que interrompeu a festa na Praça Dr. Canuto, dificultou a diversão dos integrantes do setor “Segue o Trio” e também de quem estava nos camarotes, sem estrutura para tanta chuva. Foi o último ano do Abaeté Folia.

Em 2019, além do fim do Abaeté Folia, pela primeira vez nos últimos 38 anos, a Prefeitura Municipal decidiu não fazer o Carnaval Popular na Praça Dr. Canuto, devido a dificuldades financeiras. A festa voltou a ser promovida na Praça Dr. Canuto em 2020 e foi novamente interrompida em 2021 e 2022, devido ao isolamento social imposto pela pandemia do Covid 19.